A situação do Cadastro Único em Ponte Nova

No dia 10/06, na publicação 1713 da folha, iniciamos a discussão sobre a questão social em Ponte Nova. Como base, utilizamos os dados do cadastro único de 2022 e, durante o processo de escrita, encontramos uma diferença significativa entre os dados de 2018, último ano dos microdados do cadastro único, e 2022, ano analisado na coluna. Por isso, discutiremos na coluna de hoje alguns motivos desta diferença e possíveis efeitos para políticas sociais na cidade.

Desde 2019, o número de famílias no Cadastro Único vem crescendo substancialmente ao mesmo tempo em que a porcentagem de famílias com informações desatualizadas também vem aumentando (o recadastramento deve ocorrer no máximo a cada dois anos). Em Ponte Nova, por exemplo, cerca de 7618 famílias estavam cadastradas em 2018 e 10046 estão cadastradas em 2022, um aumento de 2428 famílias (ou mais de 30%). Essas informações estão ilustradas no gráfico abaixo.

Um dos possíveis motivos é o lançamento do aplicativo de cadastro único que permite o auto-cadastramento por habitante e também o recadastramento automático, reduzindo o acompanhamento do CRAS durante esse processo. Não tem sido mais prioridade a utilização da estrutura ramificada e descentralizada da assistência social no acompanhamento da população em situação de pobreza e extrema pobreza. A principal implicação deste cenário está no desconhecimento da real situação da população vulnerável.

Em relação ao total de famílias pobres e extremamente pobres, em abril de 2022, 4397 unidades familiares encontravam-se nessa situação ante 3200 famílias em dezembro de 2018, aumento de mais de 37%. Parte desse aumento pode estar relacionado a efeitos da pandemia e da atual situação econômica do Brasil, mas é preciso considerar e investigar se a desatualização cadastral pode estar superestimando essa parcela da população.

Desse modo, é importante, a priori, manter as famílias cadastradas para que não se corra o risco de desassistir famílias necessitadas. Parte dessas famílias com o cadastro desatualizado podem ainda se enquadrar como elegíveis aos programas sociais. Retirá-las implicaria dificuldades maiores no combate à pobreza e à desigualdade. Além disso, excluir as famílias com informações desatualizadas do Cadastro Único sem antes conhecer suas reais necessidades seria jogá-las à invisibilidade.

O foco no recadastramento e na atualização do CadÚnico são medidas necessárias à retomada da compreensão da real situação das famílias ponte-novenses. Vivemos em tempos de grandes desafios. Se apoiar nas evidências existentes é um bom caminho à construção de políticas sociais mais eficientes.

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