Anel Rodoviário de Ponte Nova: uma solução para vários problemas

Ponte Nova é um município da zona da mata mineira com pouco mais de 60 mil habitantes. Tem como municípios limítrofes Santa Cruz do Escalvado, Urucânia, Oratórios, Amparo do Serra, Teixeiras, Guaraciaba, Acaiaca, Barra Longa e Rio Doce. Para além desses citados, ainda tem uma forte relação com municípios próximos como Jequeri, Barra Longa, Rio Casca e Santo Antônio do Grama. Ponte Nova destaque-se na região por ser um dos municípios com maior densidade populacional, por ser um pólo de saúde médico hospitalar, pelo seu ensino de educação superior, pelo belo Rio Piranga cortando o seu meio urbano ao meio, pelo seu comércio e por estar iniciando um tímido processo de industrialização. É o maior município desta microrregião centralizando-se como um pólo regional. Nos últimos anos também passou a ser conhecida pelo calor intenso em seu meio urbano, a alta densidade populacional em um pequeno espaço, um aumento vertiginoso de veículos automotores, sejam de uso pessoal, a serviço ou de caminhões e carretas, bem como pela má qualidade do ar, poluição ambiental e sonora promovidos pela intensidade do trânsito cotidiano. E é aí que nosso diálogo se pautará.

O meio urbano de Ponte Nova possui três saídas e três entradas. Os que vêm e vão sentido Belo Horizonte. Os que vêm e vão sentido Viçosa. Os que vêm e vão sentido Rio Casca. Dessas três entradas e saídas há um único anel. Aqueles que estão indo ou voltando no sentido Belo Horizonte e Rio Casca não necessitam passar por dentro do município, podendo passar pela MG-262. No entanto, aqueles que estão indo ou voltando no Sentido Viçosa e Belo Horizonte ou Rio Casca e Viçosa, necessariamente passam por dentro de Ponte Nova. São veículos pessoais de passeio ou a trabalho, ônibus de passageiros, camionetas, caminhões e carretas com altas cargas, inclusive cargas vivas como porcos e bois. Durante anos e nas mais diversas gestões, o município veio tentando se adaptar melhorando e recapeando as vias, promovendo uma política afirmativa de pedestres, estacionamento rotativo, mudança de faixas, novos semáforos, canteiros e criação do DEMUTRAN (Departamento Municipal de Trânsito). No entanto, chegou-se a um momento de pleno colapso do sistema viário e da sua mobilidade urbana.

Todo o trânsito das saídas e entradas mencionadas se concentra nas principais vias de Ponte Nova. Com a superlotação de veículos, as vias subsidiárias às avenidas também passaram a ser objetos de alto trânsito de passagem, não mais local como num passado recente. Com isso, um alto grau de monóxido e dióxido de carbono no ar. Poluição severa do ar aos munícipes. A poluição sonora também se faz presente pelo atrito dos caminhões e carretas, também pelas cargas vivas como porcos e as buzinas típicas de um trânsito caótico. O levantamento de poeira e do chamado pó preto, um poluente atmosférico conhecido como material particulado, que além de sujar as ruas e o interior dos imóveis, é altamente prejudicial à saúde. Por serem finas partículas, atingem o sistema respiratório do ser humano causando doenças como rinite, sinusite, bronquite, asma, entre outras. Vale frisar que na crise da pandemia gerada pelo coronavírus, um dos grupos de riscos era justamente aqueles que possuem problemas respiratórios como a asma.

Todas as soluções possíveis já foram tomadas para dirimir o impacto da intensidade do trânsito pontenovense, mas agora se faz necessário a humildade e o reconhecimento de que a política de mobilidade urbana colapsou e a sua tendência é piorar. Medidas paliativas serão somente paliativas, sem ilusões. As pesadas cargas que caminhões e carretas carregam destroem a malha asfáltica, criam fissuras e com as chuvas elas se mostram presentes em buracos justamente nas principais avenidas onde há esse grande fluxo de veículos. A intensidade de veículos coloca em risco a saúde e a vida das pessoas nas vias. A bicicleta, um meio de locomoção tão comum em todas as cidades do interior do país passa a ser um meio de locomoção perigoso. O impacto humano e ambiental é sem precedentes na história de Ponte Nova e para isso é preciso tratar o assunto como extrema seriedade e principalmente, vontade política.

Não há como se discutir políticas de mobilidade urbana sem passar em sua essência: a construção do anel rodoviário de Ponte Nova. Todos têm a ganhar. Carros de passeio, camionetas, caminhões e carretas seguindo por uma via de trânsito rápido fora do perímetro urbano. Com isso, tem-se: 

  1. a valorização e investimentos em outra região do município, ou seja, o seu crescimento e geração de empregos; 
  2. o desafogamento completo de grandes cargas e veículos nas vias urbanas do município;
  3. a própria melhoria das vias;
  4. a melhoria da qualidade do ar e da poluição sonora; 
  5. uma possibilidade de incentivo ao retorno das bicicletas as vias e a diminuição da concentração de veículos ao longo dos dias;
  6. mais dinheiro aos cofres públicos a serem investidos em outras áreas, visto que não será necessário gastar todos os anos dinheiro público para recapear a malha asfáltica destruída pela intensidade dos grandes veículos;
  7. mais dinheiro aos cofres públicos por menos cidadãos procurando o sistema de saúde pública acometidos de doenças respiratórias.

A partir daí pode-se discutir valendo-se da seriedade necessária à reformulação das políticas de mobilidade urbana fazendo reais melhorias no transporte público, nos meios de locomoção pessoais, sejam eles motorizados ou de tração humana, avançando ainda na redução das desigualdades ao direito de ir e vir e na garantia do bem estar do cidadão pontenovense. O debate sobre o tema é para ontem e a cidade necessita desta discussão. Esta questão é do interesse de todos, inclusive dos municípios e trabalhadores das cidades vizinhas que utilizam as vias urbanas de Ponte Nova para transitarem a outras cidades. A discussão sobre o tema deve ser iniciada, o ponta pé inicial deve ser dado com vontade de ganhar o jogo, afinal: um anel, não cai do céu.

Rogério Saraiva

É Analista Legislativo e Ambiental. Graduado em Direito e pós-graduado em Direito Público pela PUC Minas. Também possui cursos de Compliance pelo Instituto de Direito Real, Ética e Administração Pública e Gestão Estratégica com Foco na Administração Pública, ambos pelo Senado Federal.

*Nota

A imagem em destaque é proveniente do Pixabay. Agradecimentos a emkanicepic.

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